Naquele dia também Miguel chegara
com uma estranha e alegre sensação a casa. Para dizer a verdade já em
dias passados tinha chegado com um sentimento semelhante, um pouco
mais de satisfação, digo satisfação porque era o
que dar cabo do juízo da Melissa lhe proporcionava. Não sabia
porquê, mas o facto de a ver tremendamente irritada
agradava-lhe. Agradava-lhe também o esforço que ela
fazia para tentar ouvir discretamente as conversas que tinha com os
amigos. "Tentava", repito. Notava-se, pois encostava-se ao máximo na cadeira enquanto bebia o seu café com
uma das mãos e passava a outra pelas madeixas do cabelo numa tentativa de disfarçar.
Ser discreta não era de todo o seu forte e talvez por essa mesma razão
Miguel passara a falar mais alto. "Para que ela possa ouvir melhor o que
falamos dela (mal claro), sem que se esforce. "- pensou.
Mel... Mas que raio tinha aquela rapariga para lhe despertar interesse? Não podia dizer que a curiosidade que sentia por ela era igual às
restantes raparigas, muito longe disso. Normalmente, nem costumava sentir
curiosidade por nenhuma delas. Pelo menos das
que namoriscava, não. Essas falavam demais, ouviam de menos e só queriam ter conversas fúteis, cheias de
interesse e de má vontade. A verdade é
que também nunca procurara por melhor, por alguém diferente e único com quem pudesse assumir algo sério. Tinha pavor a relações
amorosas sérias, sabia-o. Tinha medo de se apaixonar, de ficar encantado e envolvido numa vontade louca de ser feliz. Tinha medo, porque se a
encontra-se não a ia querer perder. Não podia perder alguém que amava
novamente... Mas e se perdesse? se a perdesse ia tornar-se num poço de
amargura, num homem frio e sem sentimentos tal como seu pai quando perdera a mulher, mãe de Miguel. Não quero ser como
ele. - desabafou.
Mel... Ela não se parecia nada às outras, ela era uma
mulher com garra mas com um toque doce ao mesmo tempo. Havia algo nela de
misterioso que não sabia explicar, mas que conseguira vislumbrar nos seus olhos
logo no primeiro dia em que chegara na empresa... Um misto de tristeza com
esperança, como se vivesse num medo constante ou algo a perturbasse, como
se tivesse um segredo. Teria ela um segredo? E se tivesse, o que seria? Não
conseguia imaginar, mas sentia curiosidade e uma vontade louca de a conhecer
melhor.
4 comentários:
Obrigado (: gosto muito dos teus textos (:
Isto vai dar caldinho!! Estou curiosa para ver como a relação deles vai avançar...
Adorei o teu texto, além disso vejo muita verdade nesse texto!
Bjxxx
Mais um texto fantástico. Que dizer? É maravilhosa a forma como escreves.
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