segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O Segredo de Mel 14#


Eram agora 3h37 e o caldo tinha acabado de entornar, não na realidade mas em sentido figurado. O tema da conversa entre os rapazes era o da página principal do jornal noticias e, para azar dos azares a noticia não era conveniente para Mel. Falavam de uma rapariga de 16 anos que tinha sido raptada enquanto ia para casa de noite e que fora violada. Tinha sido encontrada no sótão de uma casa, algures por aquela zona depois de uma semana desaparecida. Não adiantaram muito os pormenores, mas brincavam um pouco com a situação. Estavam com aquelas conversas típicas de adolescente sem maturidade. Faziam afirmações estúpidas sem cabimento algum como ''Tivesse ido para casa mais cedo'' ou '' Hoje em dia as miúdas de 16 anos gostam destas coisas''. E riam-se, riam-se como se fosse a maior anedota de mundo. Como é óbvio Mel não se controlou e bateu com o punho com toda a força - que nem sabe onde foi buscar - na mesa.
- Acham normal o que estão a dizer? - Gritou irritada. De subito fez-se silencio e olharam-na admirados e um quanto assustados. Faísca até se escondeu atrás do sofá imaginem.
Expliquem-me como são capazes de brincar com uma situação destas? Acham correto? E que tal se porem na situação da rapariga uma vez nas vossas vidas e pensarem na figurinha ridícula que estão a fazer? Sim ridícula! Já pensaram a dor que ela sente? Os anos que ela vai andar no psicólogo para curar o trauma? No resto da vida dela que vai ficar condicionado por um acontecimento? Por uma tragédia? - disse-o alto, revoltada com a situação. Mel ainda concluiu, agora num tom mais melancólico que parecia um desabado - Oh, já pensaram?
- Tem calma, exageramos eu sei. É que só estávamos a brincar... Até parece que foi contigo mulher! - Disse rui num tom calmo ainda um pouco confuso com o que se passara.
- E foi! Comigo foi parecido! E dói percebem? dói tanto tanto. Tanto que mesmo que explique vocês nunca vão perceber, nunca! - Gritava Mel para dentro de si, como se aquele ''parece que foi contigo'' lhe tivessem trazido recordações indesejadas, como se o seu frágil coração tivesse regressado ao seu estado de à 10 anos atrás.
Melissa calou-se, levantou-se da mesa e foi para o quarto, onde se agarrou à almofada a chorar oceanos como se não houvesse amanhã. Sentia-se de novo perdida. Oh, perdida.

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