quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O Segredo de Mel 10#


Era 20 de Março, faltava apenas um dia para começar a primavera e Mel estava mais bem disposta que nunca. Adorava flores e por isso adorava a primavera. Adorava as ruas alegres e floridas, todos aqueles perfumes de aromas diversos que pairavam no ar, punham-na bem disposta. A primavera para ela era a terapia do ano. Nem muito frio, nem muito calor, nem muita chuva, nem muito sol. Oh, perfeito perfeito!
Apesar disso mantinha a lareira ligada - não que estivesse frio - gostava de ver as chamas enquanto ao final da tarde mergulhava nos seus pensamentos longínquos e viajava para outros mundos paralelos. Era incrível, focava-se numa labareda e num estalar de dedos estava muito, muito longe dali.
No entanto hoje, infelizmente, não tivera tempo para tais viagens. Hoje a preocupação era outra e os seus olhos estavam focados ora no ecrã do pc ora em jornais. Precisava de trabalho, urgentemente de trabalho. Já se sentia mal de ter a mãe a pagar as contas da água e da luz já que o dinheiro que ganhava no part time do call center não chegava para tudo. Sentia-se frustrada. Tinha-se esforçado tanto naqueles anos de faculdade para agora passar os dias a ouvir pessoas em chamadas sucessivas. Já estava habituada, mas não era aquilo que tinha sonhado. Tinha sonhado trabalhar naquela empresa em que cada um tem a sua secretária própria e faz no mínimo o que gosta. Já tinha passado por essa experiência mal acabou o curso, era uma empresa com nome mas para seu azar em menos de meio ano lá foi à falência. Era preciso azar, tanto tanto azar.
Agora estava ali à horas a olhar para jornais e anúncios na net, já lhe doíam os olhos, sentia-os pesados. Parou. Parou e levou as mãos aos olhos em desespero. Não queria chorar, não ia chorar porque amanhã era primavera. 
Quando já estava quase a ceder à pressão reparou que o faísca estava sentado em frente à lareira a olha-la muito atentamente. Começou a rir às gargalhadas porque parecia imita-la nos seus dias normais. Com a gargalhada faísca desviou o olhar das chamas e olhou para Mel, miou e voltou a olhar para a lareira. Parecia estar a chama-la. Apesar de Mel ter ficado confusa com a situação, decidiu-lhe fazer a vontade e de manta polar debaixo do braço, lá foi ela para o chão. Mal se sentou, Faísca saltou-lhe para o colo e esticou-se todo como se ela fosse a sua poltrona. Mel sorriu e ali ficaram os dois leais companheiros à espera de dar as boas vindas à primavera. 

1 comentário:

catarina disse...

já não será tarde demais? a tal bola de neve já está em formação à mais de 3 meses. eu já não sei por onde começar. Por mais determinada que acorde, há sempre algo que faz baixar a cabeça.