sábado, 14 de janeiro de 2012

Não olhes para trás



Não olhes para tras por favor! peço-te pela minha vida - dizia o meu coração num desespero tal que até cheguei a sentir um forte aperto no peito. Asfixiei por momentos mas logo de seguida recuperei a minha respiração.
Ouvia como que um eco na cabeça que não me largava, tapava os meus ouvidos mas mesmo assim aquele sopro inoportuno não me soltava. Cheguei a cerrar os olhos com toda a minha força já de joelhos no chão no meio daquele deserto tenebroso enquanto pedia gritando para me deixarem em paz mas de nada adiantava, ouvia cada vez mais e mais alto. Eu sabia, sabia que aquele som não ia parar de me importunar enquanto eu não aprendesse que o caminho é para a frente e a marcha atrás só acontece na condução.
Mania de deixar portas semi-abertas faz isto. Sentia corrente de ar e isso fazia com que ficasse com frio, muito frio. Cortava-me a pele, deixava chagas que não curavam, nao se viam mas estavam sempre lá. Mas eu como uma assumida massoquista mantinha-me mesmo no sitio onde passava mais vento. Anda sofre, e eu sofria, e eu ficava e eu deixava.

Porque nunca me avisaste de nada querida vida?

Agora sei que não vale a pena olhar para trás. Finalmente aprendi, mas foi sozinha.
A vida é muito curta para perder um segundo nem que seja só para espreitar por entre uma frincha da porta para o passado. Não o faças, a menos que seja para não voltares a cometer os mesmos erros. Se não for para isso, tapa é rápido o buraco da fechadura, mas com cimento para não teres a tentação de voltar a destapa-lo.
Ai presente diz por favor ao teu ''pai'' passado para não entrar tantas vezes de socapa pela porta que tranco tantas vezes, diz-lhe também para não me roubar a chave. ha, e diz ao teu ''filho'' futuro para não vir tantas vezes ter comigo porque senão eu não consigo dar-te atenção e neste momento sabes que és a prioridade.Peço-te também para teres uma conversa com o teu colega destino, diz-lhe para não me traçar algo muito mau e para tratar bem do futuro porque para mau já me basta algum do passado que tive. A ti presente também te queria dizer algo, mas como mudas tantas vezes os meus pensamentos acabei por me perder.

Agora eu já deixei fechadas as portas que não interessam e já não tenho frio. Abri varias janelas e acho que assim é melhor, vejo belas vistas mas apesar de belas já não me deixo enganar por elas, tenho sempre cuidado. Quanto aos sons que ouvia esses disseram-me adeus e desapareceram no horizonte no dia em que deixei de olhar para trás. Obrigada vida, mas acima de tudo obrigada a mim por finalmente ter acordado para ser feliz.




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